Publicado em 21 de maio de 2021

Em busca de uma aviação mais limpa, novos combustíveis menos poluentes e de fontes renováveis devem ser desenvolvidos. Líquidos gerados a partir de energia, seguindo o processo Power to Liquid (PtL) são uma solução. Energia renovável, água e CO2 servem como primeiros insumos. Eles podem ser usados para gerar Hidrogênio Verde e, em seguida entrar no processo de produção de diversos combustíveis e outras matérias.

Mas, esses recursos naturais não são os únicos insumos úteis. Também a glicerina pode servir como ingrediente de combustíveis de aviação. Uma opção interessante para pesquisar com mais profundidade?

Foi assim que pensou o Projeto ProQR – Combustíveis Alternativos sem Impactos Climáticos, ao desenvolver no ano de 2019 o estudo denominado “Geração de Combustíveis Sintéticos de Aviação a Partir de Glicerina Oriunda da Produção de Biodiesel”. A partir de análises técnicas, o estudo argumenta o quão potente pode ser repensar o destino dos resíduos da produção do Diesel para o desenvolvimento de combustíveis de aviação limpos no Brasil.

A glicerina, também chamado de glicerol, surge como subproduto na produção de biodiesel: A cada tonelada, surge uma quantidade de 10% de glicerol. No Brasil então, o segundo maior produtor de biodiesel no mundo, encontramos uma imensa quantidade desse material.

E talvez você esteja se perguntando: como na prática a aviação sustentável se beneficiaria dessa matéria? Então: Porque o uso do subproduto glicerol é um método tecnológico e quimicamente viável para produzir combustíveis sintéticos sustentáveis. O estudo explica como: a partir do glicerol é possível produzir o gás de síntese (Syngas), que por sua vez, é um pré-produto do combustível sustentável de aviação.

O estudo, elaborado por Fabiola Correia, pesquisadora junto Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis – ISI/ER do Rio Grande do Norte, vai bem mais no detalhe. Ele apresenta os processos tecnológicos de produção de syngas de reforma a vapor, reforma autotérmica, pirólise e oxidação parcial, os quais são explorados em conjunto com as propriedades físico-químicas do glicerol. Ainda, a autora conclui que a partir da identificação de fontes de syngas (CO, H2) e energia ambientalmente amigáveis, envolvendo a síntese Fischer-Tropsch, há também o potencial de produção, de combustível de aviação sustentável (SAF) com preços competitivos com o atual JET A1.

Em síntese, o documento visa demonstrar como a bem sucedida expansão da indústria de biocombustíveis no Brasil, que cria uma abundância de glicerol como subproduto, pode ser bastante importante também para a produção de combustíveis sintéticos. Além da possibilidade de diversificar a oferta de combustíveis mais sustentáveis, o aproveitamento desses subprodutos vai também na linha de economia circular: aproveitando a glicerina, a cadeia do valor do Biodiesel é prolongada e ainda abre caminhos para novos combustíveis sem impactos climáticos.

Desse modo, valorizando as vocações que o contexto brasileiro oferece, essa pesquisa vale bastante. Ele providencia informação e argumentos para uma visão diferenciada sobre as múltiplas rotas possíveis rumo à combustíveis mais sustentáveis.

Para acessar o estudo, clique aqui.

Bárbara Correa contribuiu para este artigo.

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