Publicado em 14 de maio de 2021

A Organização de Aviação Civil Internacional (ICAO) está atualmente promovendo seus webinários pre-stocktaking, uma série sobre aviação sustentável. O webinar de 6 de maio de 2021 focou em como viabilizar a descarbonização sustentável da aviação com combustíveis sintéticos.

As apresentações e discussões do webinar pintaram um quadro vívido dos desenvolvimentos atuais, desafios e potenciais do Power-to-Liquid para reduzir as emissões de CO2 na aviação. Alavancando os enormes potenciais de Power-to-Liquid, projetos pilotos promissores estão avançando em todo o mundo. Há três meses, a companhia aérea holandesa KLM iniciou o primeiro vôo de passageiros com uma mistura de 500 litros de querosene sintético.

O International Power-to-X Hub Berlin e o ProQR Brasil trouxeram dimensões de sustentabilidade Power-to-X para a discussão e apresentaram seu projeto piloto dentro da dinâmica atual de produção de Power-to-Liquid no Brasil.

International PtX Hub Berlin: Dimensões de Sustentabilidade para Power-to-X

Alexander Mahler, Assessor de Combustíveis Sintéticos do International PtX Hub Berlin, destacou a necessidade de uma estrutura abrangente de sustentabilidade para combustíveis PtL.

Em sua apresentação, ele mostrou os diferentes níveis onde a sustentabilidade deve ser efetivamente abordada. Isto inclui o próprio combustível com todos os seus fatores de entrada: o processo de produção e cadeia de valor, bem como políticas em níveis supranacionais e internacionais. Em todos os níveis, as ferramentas corretas devem ser escolhidas para garantir a sustentabilidade.

Ele solicitou a organizações supranacionais e internacionais, como a ICAO, que estabeleçam metodologias e padrões, por exemplo, sobre como o Power-to-Liquid pode ser creditado e incluído em esquemas como o Esquema de Compensação e Redução de Carbono para a Aviação Internacional (CORSIA). Outra questão é como garantir que os outros efeitos climáticos não-CO2 do Power-to-Liquid também sejam abordados.

Entretanto – mesmo que o Power-to-Liquid ofereça enormes potenciais para reduzir as emissões de carbono na aviação – outros instrumentos como o preço do carbono, melhorias na eficiência e redução de subsídios também são urgentemente necessários.

ProQR Brasil: Piloto da produção de Power-to-Liquid em aeroportos remotos

Enquanto isso, o projeto brasileiro ProQR está trabalhando no piloto de produção sustentável de Power-to-Liquid em áreas remotas, e atendendo ao maior número possível de dimensões de sustentabilidade.

Ruth Horstmann Barbosa, Assessora de Capacitação Humana e Comunicação, apresentou o ProQR, que está articulando as condições promissoras para Power-to-Liquid no Brasil. O país já tem uma participação de 83% de energias renováveis em seu mix energético, e ainda um potencial adicional para expandir as energias renováveis. As dimensões dos países tornam a aviação regional indispensável. Existem centenas de aeroportos em áreas muito remotas, onde o reabastecimento é feito atualmente de forma não econômica. O combustível para reabastecer os aviões em aeroportos remotos é transportado para esses aeroportos através de vôos.

Portanto, nessas áreas, a produção local de energia para líquidos já é economicamente viável hoje em dia. Essa produção também pode promover o desenvolvimento social e econômico nesses locais. O Brasil oferece ainda um forte conhecimento na produção de biocombustíveis, com mais de 40 anos de experiência em pesquisa e desenvolvimento.

A dinâmica positiva no Brasil também apoia o avanço da produção sustentável de Power-to-Liquid no país. Em fevereiro, o Hub de Hidrogênio Verde no Ceará foi lançado em uma área com enorme potencial para energia renovável e oportunidades de exportação. Atualmente, um Programa Nacional de Hidrogênio está sendo desenvolvido pelo governo federal.

Especialmente relevante para a aviação sustentável é o Programa Combustível do Futuro, que foi lançado em abril. O programa incluí medidas em pesquisa e financiamento de projetos para aumentar explicitamente o uso de combustíveis sustentáveis e com baixo teor de carbono.

O ProQR é expansível no Brasil, e também pode servir como um plano para a produção sustentável de Power-to-Liquid em outros países.

Copyright ICAO; Screenshot taken by GIZ / Ruth Barbosa

Reunindo perspectivas multifacetadas sobre Power-to-Liquid

Os outros palestrantes também trouxeram perspectivas cruciais para a discussão:

Anna Stukas, da Carbon Engineering Ltd, se concentrou no papel central da Captura Direta de Ar (DAC) para PtL: A DAC é usada para capturar CO2, que é necessário para produzir combustíveis PtL.

Como muitos estados membros da União Europeia já implementaram subquotas de PtL, Karl Hauptmeier da Norsk e-Fuel AS apontou a UE como um mercado regulador interessante para PtL.

Christian Pho Duc, da Smartenergy Group AG, considerou a dinâmica recente ao estabelecer metas mais ambiciosas de redução de emissões como uma indicação de ação acelerada na proteção climática, e apelou para o estabelecimento de um sistema inovador de comércio de certificados.

Christoph Wolff, do Fórum Econômico Mundial, enfatizou a necessidade de considerar as diferenças na economia regional. Países como o Chile, Brasil, Noruega e Índia têm grande potencial de PtL devido a seus baixos custos de produção de energia renovável, mas ainda assim o PtL apresenta oportunidades potencialmente lucrativas para qualquer país.

Keith Whiriskey, da Bellona Europa, destacou a necessidade de utilizar energia renovável adicional para a produção de PtL. Ele também direcionou a atenção para o risco de lavagem verde do combustível PtL que é produzido com CO2 de fontes não-sustentáveis.

Outros desafios centrais também foram identificados pelos especialistas. Estes são: estabelecer roteiros claros para mobilização de capital, desenvolver mecanismos de financiamento e implementar normas contábeis.

O webinar foi gravado e pode ser assistido na TV da ICAO.

Bárbara Correa traduziu este artigo.

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