Publicado em 30 de junho de 2021
De 16 a 18 de junho de 2021, o International PtX Hub Berlin realizou seu segundo Treinamento de Hidrogênio Verde e PtX no Brasil. Membros do Instituto de Pesquisa Energética (EPE), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), do Ministério da Infraestrutura (MI), d Ministério de Minas e Energia (MME), do Ministério da Educação (MEC), do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), e da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) discutiram o papel do Estado e as tarefas de várias instituições no caminho para o desenvolvimento de uma estratégia nacional de hidrogênio verde. Onde está a demanda por hidrogênio verde e Power-to-X? Quais são os recursos disponíveis e as formas de produção? Quais políticas são necessárias e como definir o papel do hidrogênio no mix energético brasileiro?
O Brasil no caminho para se tornar uma potente Central de Hidrogênio
A capacitação dos atores políticos e seu debate sobre estas questões concretas chegou bem a tempo para o país: Seguindo a dinâmica mundial e se beneficiando da localização estratégica do país, que é vantajosa para um papel significativo no mercado global de hidrogênio, o Brasil está se preparando para integrar o hidrogênio em sua matriz energética. Pólos industriais estão sendo criados em áreas portuárias como Pecém no Nordeste ou o Porto do Açu no estado do Rio de Janeiro. Grandes empresas como a White Martin investem a fim de aproveitar todo o potencial do Brasil em matéria de geolocalização e abundância em recursos naturais e impulsionar a exportação e o uso nacional do hidrogênio.
Ao mesmo tempo, o governo reconheceu a importância do hidrogênio para o futuro energético do país. O Plano Nacional de Energia 2050, emitido pelo Ministério de Minas e Energia do Brasil em dezembro de 2020, identifica o hidrogênio como uma tecnologia disruptiva, capaz de mudar o mercado energético até 2050. O hidrogênio poderia ajudar a armazenar energia, descarbonizar setores que normalmente são difíceis de descarbonizar e proporcionar uma certa flexibilidade ao mercado energético. Em maio de 2021, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) publicou uma resolução (Resolução nº 6/2021) determinando que um grupo de trabalho integrando os Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovações, Desenvolvimento Regional e Minas e Energia, assim como o Instituto de Pesquisa Energética, deveria propor diretrizes para o Programa Nacional de Hidrogênio dentro de sessenta dias. Os primeiros resultados devem ser anunciados em meados de julho.
Após a publicação do Plano Nacional de Energia, foi proposta uma estratégia de “arco-íris” considerando o hidrogênio, a fim de realizar todo o potencial do Brasil. Isto significa que, além do hidrogênio verde baseado em energias renováveis, outras fontes de entrada, como carvão, gás natural ou energia nuclear, poderiam ser consideradas também para a produção de hidrogênio. No entanto, o treinamento estabeleceu que mesmo que o hidrogênio verde não seja competitivo a curto prazo, ele desempenha um papel vital no sucesso da transição energética.
Olhando para o potencial do Brasil em termos de hidrogênio verde, a matriz energética do país consiste em cerca de 80% de energias renováveis e é uma das mais limpas do mundo. Esta abundância em recursos energéticos naturais poderia permitir que o país se tornasse eventualmente um grande produtor de hidrogênio verde. O Brasil possui vastos recursos de água doce necessários para o processo de eletrólise – bem como recursos solares e eólicos inexplorados. Um desafio é que essas usinas de energia eólica e solar estão localizadas principalmente no nordeste do país, uma região sem fontes de água doce suficientes. Para a eletrólise no processo de produção de hidrogênio, teriam que ser implantadas plantas de dessalinização com uso intensivo de energia.
O treinamento GIZ fornece aos agentes políticos informações para as diretrizes nacionais sobre hidrogênio
Justamente no momento em que tais considerações estratégicas se tornaram questões-chave para os tomadores de decisão brasileiros, a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, implementada pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, trouxe ao Brasil mais uma edição do “Treinamento em Hidrogênio Verde & PtX”. Os projetos de cooperação da GIZ na área de energia ofereceram o treinamento em cooperação com o International PtX Hub Berlin a suas instituições parceiras. Além dos atores envolvidos no trabalho atual sobre as diretrizes, também participaram instituições dos setores de regulação energética, educação profissional e aviação, sendo estas últimas parceiras do Projeto ProQR. Esta iniciativa se concentra nos Combustíveis de Aviação Sustentável produzidos a partir do hidrogênio verde (PtL SAF) e representa uma forma concreta de Power-to-X a ser pilotada no Brasil dentro deste projeto.
O treinamento consistiu em dois dias de estudos sobre aspectos técnicos e econômicos. No terceiro dia da oficina de transferência interativa, os participantes analisaram o contexto nacional e fizeram recomendações para potenciais diretrizes. Um estudo do Ministério de Minas e Energia (MME) sobre mapeamento setorial, a ser publicado em breve, serviu como base para o intercâmbio.
Os participantes discutiram, por exemplo, o uso de Combustíveis Power-to-Liquid no setor de transporte nacional e internacional, em substituição aos combustíveis fósseis utilizados no transporte rodoviário pesado, aviação e transporte marítimo, que até o momento são setores que grande emissor. Também foi destacado o potencial do hidrogênio para a produção de amônia verde, pois pode ser utilizado para a produção de fertilizantes neutros em carbono no significativo setor agrícola brasileiro, substituindo fertilizantes à base de nitrogênio, como a uréia, a longo prazo.
Além disso, o treinamento enfatizou os aspectos de sustentabilidade nas futuras cadeias de valor, por exemplo, a exploração de resíduos, bem como as vocações regionais ou locais que podem fornecer uma variedade de formas de produção e utilização de hidrogênio e produtos Power-to-X.
Em geral, o treinamento forneceu aos participantes novos conhecimentos sobre hidrogênio verde & PtX e estimulou os atores políticos a colocar as questões-chave ao desenvolver a estratégia para uma economia de hidrogênio, definindo as partes interessadas e as responsabilidades.
Espera-se que o treinamento possa proporcionar um bloco de construção neste processo. O International PtX Hub Berlin aguarda com expectativa a publicação das diretrizes sobre o hidrogênio anunciadas para meados de julho e seu futuro impacto dentro do ambicioso Plano Nacional de Energia do Brasil 2050.
Para saber mais sobre o treinamento, acesse Training on Green Hydrogen and PtX.
Thomas Elmar Schuppe e Elisabeth Kriegsmann contribuíram para este artigo.
Bárbara Correa traduziu este artigo.