Especialistas discutiram o potencial do momento político para o desenvolvimento de combustíveis sustentáveis de aviação no Brasil

Publicado em 24 de junho de 2021

Em escala global, acompanha-se por parte de diversos países a implementação de medidas políticas, econômicas e regulatórias cada vez mais abrangentes rumo à descarbonização dos combustíveis e do transporte. O Brasil é signatário do Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International Aviation (CORSIA), que impõe medidas obrigatórias a partir do ano de 2027 para reduzir as emissões na aviação internacional. Sendo assim, sem dúvidas, o país precisará considerar a existência de produção de Combustíveis Sustentáveis de Aviação.

Alinhado com essa tendência, o Projeto ProQR – Combustíveis Alternativos Sem Impactos Climáticos promoveu no dia 11 de junho o evento “Aviação Limpa para o Brasil – Combustíveis Sustentáveis no Contexto Político Brasileiro”. Além de palestrantes de Órgãos Políticos relevantes e da Cooperação Técnica Brasil-Alemanha (GIZ), o webinário reuniu cerca de 100 participantes, membros de diversas instituições brasileiras e internacionais, dentre elas universidades, empresas e organizações governamentais.

Como palestrantes, Marcos Oliveira Costa (GIZ), Eduardo Soriano (MCTI) e Pietro Mendes (MME) apresentaram em nível profundo o cenário brasileiro atual referente ao desenvolvimento de combustíveis sustentáveis. Além de divulgar a proposta do Projeto ProQR, foram apresentados os programas nacionais em andamento que englobam a temática, como o Combustível do Futuro. Houve uma discussão rica sobre alvos, sinergias e desafios que foi bem recebida pelo público internacional.

Marcos Oliveira Costa, vice-diretor do Projeto ProQR e responsável pelas Componentes Articulação Setorial e Plantas Piloto, apresentou uma das propostas do ProQR, centrada na produção modular de combustíveis, por meio de energias renováveis e da tecnologia Fischer Tropsch, próximo do local de consumo de combustível. Destacou também que:

“Essa não é a única rota, e o MCTI e o ProQR avaliam outros caminhos para promover o petróleo sintético e o gás de síntese.”

Dentre esses, é possível chegar ao hidrocarboneto renovável envolvendo diferentes tecnologias tais como a captura de CO2 do ar do ambiente, o uso de biogás, captura de CO2 na produção etanol, processamento de glicerina oriunda da produção de biodiesel, entre outras. Ainda nesta linha, o engenheiro Marcos Costa afirmou que mostra-se importante o reconhecimento das vocações locais da região onde uma planta será instalada para tirar a melhor relação custo-benefício do empreendimento.

O projeto ProQR, a partir de mapeamento de refinarias, hidrovias e terminais de armazenamento de combustível existentes no país, já constatou que, em localidades remotas na região Norte, os custos de levar combustíveis representam um problema logístico. Por esse motivo, o Projeto afirma que produzir Power-to-Liquid Sustainable Aviation Fuel (PtL SAF) nesses locais, hoje, já se mostram interessantes do ponto de vista economico.

Marcos ressaltou ainda a importância do desenvolvimento progressivo das certificações para esses combustíveis sintéticos a nível nacional e internacional. Com diálogos acontecendo em ambos níveis, Marcos afirma que:

“Em algum momento em breve teremos as condições necessárias para que essa produção se inicie.”

Eduardo Soriano Lousada, Diretor do Departamento de Tecnologias Aplicadas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), avaliou como promissor o que chamou de “conjunto de condições quadro do Brasil”:

“É muito importante dizer que existe um framework de orientações estratégicas, planos e resoluções que nos permitem dar um ambiente mais seguro, tanto de desenvolvimento tecnológico, como ambiente de negócios, para essa nova área que são os combustíveis renováveis para aviação, sejam eles de origem biológica, sintética ou um misto das duas.”

Dentre eles, Soriano destacou a Estratégia Nacional de Ciência e Tecnologia, o Plano de Energias Renováveis, o Programa de Biodiesel, Programa RenovaBio, Programa Combustível do Futuro (MME), Programa de Hidrogênio (em elaboração) e o Conselho Nacional de Política Energética. Soriano afirmou também que esse framework é capaz de dar segurança aos investidores.

Pietro Mendes, Diretor do Departamento de Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME), mencionou a importância da promoção da integração entre o Projeto ProQR e o Programa Nacional Combustível do Futuro:

“Um dos grandes pilares do Programa Combustível do Futuro é justamente que a gente consiga criar essas pontes e propor medidas de integração de diferentes iniciativas que já existem em outros Ministérios e ter essa articulação.”

Pietro descreveu o Comitê Técnico que será constituído dentro do Programa Combustível do Futuro. O Comitê será subdividido em eixos temáticos, como Ciclo Otto, Ciclo Diesel, ProBioCCS, BioQAV e Combustíveis Marítimos, sendo BioQAV o subcomitê o qual integra os Combustíveis Sustentáveis de Aviação (SAF). Ainda, Pietro levantou a importância da integração de políticas públicas e a preocupação da análise do ciclo de vida, do “poço à roda”, em todos os modos de transporte. Nesse caso são levadas em consideração não só a eficiência do motor, mas também mecanismos para avaliação da intensidade de carbono envolvido na produção dos biocombustíveis. Dentre estes, mecanismos como desmatamento zero. Por fim, ele afirmou que:

“Nossa meta é a redução da emissão de gases de efeito estufa e não a escolha de uma ou outra determinada rota. Quando a gente olha o cenário de redução de emissões, fica muito claro que a gente precisa de Sustainable Aviation Fuel para conseguir reduzir as emissões.”

Após as apresentações, o diálogo foi rico. Ficou claro que, embora a competitividade econômica de SAF seja ainda muito reduzida, não terá um caminho para trás nos esforços de descarbonização do transporte. Por enquanto geram-se mais perguntas do que respostas – fato que nos convida a manter abertas as trocas dentro do tema dos combustíveis sustentáveis para aviação limpa.

Para saber mais, o evento pode ser assistido em português e inglês no canal da GIZ Brasil.

Acesse abaixo as apresentações do webinar:

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